O que ainda é preciso para despertar o morador para a Automação Residencial?

Autor: Eng. José Roberto Muratori
Artigo publicado na revista Lumiere Electric edição 240


Ainda não existem muitos estudos de mercado que tratam do tema “Automação Residencial”, principalmente com foco no consumidor final, ou mais apropriadamente falando, dos moradores de uma casa. Conseguimos obter em alguns levantamentos o numero estimado de casas automatizadas no Brasil e certas preferencias reveladas pelos moradores. O diagrama abaixo mostra certas tendências e foi obtido através de uma pesquisa feita pela AURESIDE (Associação Brasileira de Automação Residencial e Predial) junto a um grupo de aproximadamente 200 empresas de projeto e integração no Brasil.

A pergunta da pesquisa foi: quais os sistemas mais solicitados pelos seus clientes? Abaixo os percentuais obtidos na pesquisa:

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A preferencia pelo controle de iluminação tem se mostrado consistente nos últimos três levantamentos feitos. Sistemas de entretenimento e de segurança estão logo a seguir. É provável que os moradores que valorizam este aspecto da automação residam em apartamentos ou casas em condomínios fechados onde a questão da segurança já é atendida pelos responsáveis do condomínio e, assim, causam menor preocupação ao morador da unidade habitacional.

Recentemente foi apresentado um relatório pelo IDC sobre a relação do consumidor brasileiro com as novas tecnologias, num espectro amplo. No caso, a questão das “casas inteligentes” foi tratada como um dos capítulos do estudo, onde os outros seriam:



Realidade aumentada/realidade virtual • Wearables • Carros conectados • Carros autônomos • Smartphones • 5G

Quanto ao conceito de casa inteligente, conectada à Internet das Coisas, 67,3% dos entrevistados disseram já estarem familiarizados com a ideia. Apesar disso, apenas 4,3% deles já possuem pelo menos um dispositivo inteligente em casa, enquanto outros 68,4% gostariam de ter, mas ainda acham esses produtos muito caros.
Com relação aos benefícios de uma casa inteligente, 81,3% das pessoas ouvidas pela pesquisa acreditam que o controle de segurança seja o mais atrativo, enquanto 75% gostam da ideia de controlar a iluminação remotamente.

A seguir os resultados apresentados em forma gráfica:




Embora sejam dados restritos ainda já podem traduzir algumas constatações, entre as quais destacamos:

- a impressão de que a Automação Residencial é “cara”: sem duvida as novas tecnologias ainda não disseminadas de forma ampla tendem a ter custos acima da média quando comparadas a tecnologias mais utilizadas e consolidadas. No entanto, esta realidade começa a mudar com a maior oferta de produtos e serviços e com a adoção massiva de sistemas conectados à internet. Este tipo de funcionalidade começa a dispensar o uso local de hardwares que além de custosos exigiam uma manutenção especializada. A substituição de equipamentos que precisavam ficar fisicamente alocados na residência pelo processamento na “nuvem” causa uma redução sensível nos custos operacionais e tornam a manutenção mais simples e que, além de já fazer parte do “pacote” adquirido pode ser feita à distancia, remotamente. Novas modalidades de cobrança começam a ser implantadas, trocando a venda de equipamentos pelo pagamento recorrente, ou “as a service”, diminuindo o investimento inicial necessário para implantação dos sistemas na residência.

- o amplo desconhecimento dos moradores sobre as possibilidades representadas pela automação residencial: a disseminação deste conceito ainda está em sua etapa inicial, embora os primeiros sistemas de “casas inteligentes” já tenham chegado ao Brasil há pelo menos vinte anos. A propagação ainda se dá no “boca a boca”, existe pouca divulgação através da mídia e até mesmo nas redes sociais. Fizemos um rápido levantamento nas postagens do Twitter em nível mundial e comparamos a incidência dos termos “smart home” e “casa inteligente”. Enquanto o primeiro termo (na língua inglesa) é citado cerca de 30 vezes por hora o termo “casa inteligente” (em português) aparece cerca de 30 vezes por semana!... Esta enorme diferença se torna mais significativa se lembrarmos de que se trata de postagens feitas tanto por empresas como por pessoas físicas, demonstrando que mesmo na área corporativa (ou seja, a cargo dos fornecedores) a disseminação destas informações é extremamente baixa. Showrooms ainda são poucos e elitizados.

- Dificuldade de uso: muitos moradores que conviveram há alguns anos com os diversos controles remotos de seus equipamentos domésticos ainda guardam a impressão da dificuldade de manuseio que sentiam na sua utilização. As mudanças foram significativas e hoje temos a possibilidade de criar interfaces intuitivas que atendem cada tipo de usuário. Desde simples pulsadores utilizados no lugar dos interruptores convencionais até complexas telas de toque (touchscreen) configuradas em smartphones ou tablets podem ser utilizados de forma simples para os acionamentos de diversos equipamentos simultaneamente – aquilo que normalmente denominamos de criação de “cenários”. Facilidade, interatividade e comodidade se colocando à disposição dos usuários.

- A baixa adesão das construtoras: neste sentido a Automação Residencial ainda não foi entendida pelos diversos agentes da construção civil como um diferencial positivo na sua oferta. Desde investidores, passando pelos construtores e mesmo pelos arquitetos, o conhecimento das novas tecnologias é bastante restrito ainda e com isso os novos projetos de edificações não incorporam novidades ao serem iniciados e desenvolvidos. Situação que começa a mudar, embora lentamente, em função das novas demandas de habitação que estão surgindo, tais como uso compartilhado de moradias e de locais de trabalho, locação temporária e, principalmente, o acesso de um consumidor mais jovem ás moradias. Este tipo de morador já utiliza a tecnologia intensivamente em seu dia a dia, portanto aceita com naturalidade estender o seu uso para a sua casa. Isto começa a ser percebido pelos incorporadores como uma nova demanda e deve passar a ser atendida gradativamente nos próximos anos.

Como podemos perceber as dificuldades ainda existem, mas estão a caminho de ser resolvidas. Talvez o ritmo desta mudança ainda não seja o idealizado, mas também devemos levar em conta que é um mercado embrionário, dando ainda os seus primeiros passos rumo à consolidação. Mercados mais maduros apontam um percentual entre 15 a 20% de residências com automação. No Brasil nem chegamos ainda a 1,5% do total de residências. Um longo, mas promissor, caminho a ser percorrido.



Um comentário:

  1. CARLOS EDUARDO RIBEIRO3 de julho de 2018 às 21:57

    Excelente texto. Concordo que a divulgação é um dos entraves do segmento.

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