Artigo publicado na revista Lumiere Electric numero 232 - setembro 2017
Por: Eng. José Roberto Muratori (*)
Em outros
artigos aqui publicados temos discutido a influencia positiva que os sistemas
de automação podem oferecer na eficiência das edificações. Seja na redução no
consumo de energia e insumos, no uso das instalações e na manutenção dos
sistemas que se tornam mais simples, este tipo de abordagem se situa fortemente
ligado às áreas comuns dos prédios e condomínios.
Aparentemente,
estas soluções vêm ganhando corpo não só nos projetos de novas edificações como
também em condomínios já implantados onde os elevados custos operacionais estão
obrigando os gestores a adotar soluções inteligentes.
No entanto,
neste artigo vamos mudar o foco e discutir como pode ser bem sucedido o uso de
sistemas de automação no ambiente residencial, ou seja, na unidade habitacional
especifica, seja um apartamento ou uma casa.
Por se tratar de
um sistema reconhecidamente personalizado, a Automação Residencial tem sido
tratada com frequência como um item que deve ser discutido de forma individual,
ou seja, entre o morador e os prestadores de serviços que lhe atendem, deixando
de lado a construtora ou quem participou do projeto desde o inicio.
Esta visão
precisa mudar e rapidamente. Por quê? Temos observado mudanças muito
representativas nas questões ligadas à habitação nos anos recentes. Fóruns,
congressos e eventos em geral reunindo desde incorporadores até urbanistas,
arquitetos e projetista mostram tendências relevantes no “morar”, dentre as
quais podemos destacar:
- redução da
área útil das unidades, principalmente apartamentos com localização mais
centralizada nas grandes cidades.
- utilização
cada vez mais intensiva dos equipamentos urbanos disponíveis na redondeza, desde
transporte publico até academias, lojas e escolas.
- deslocamento
do local de trabalho para áreas de co-working
ou home offices
- criação de
habitações com características específicas para determinados tipos de usuários,
tais como terceira idade, millenials, geração
Z e outras tipificações.
- um crescente
desapego pelo verbo “possuir” nas novas gerações, vide o sucesso de iniciativas
como os aplicativos de transporte (ex: Uber) ou de moradias temporárias (ex:
Airbnb)
Neste contexto é
perceptível a participação crescente e, podemos dizer, pervasiva da tecnologia
impregnando os novos hábitos de moradores. Até mesmo benefícios sempre
procurados como segurança e economia podem abrir espaços importantes para o
lazer, o trabalho, o monitoramento da saúde e aspectos que envolvem a
convivência social fora do ambiente doméstico.
Então, ao
avaliar estas mudanças, os investidores e incorporadores da construção civil se
deparam com um novo e inusitado cenário. Surgem questões que nunca haviam sido
levantadas antes. Inicialmente são buscadas soluções mais obvias no ambiente
construído e que partem basicamente de partidos arquitetônicos.
Por exemplo,
códigos de edificações urbanas vêm reduzindo gradativamente o numero possível
de vagas de garagem nos novos empreendimentos e, num primeiro momento a reação
de alguns incorporadores foi de deixar uma pequena frota do condomínio
disponível para locação esporádica pelos moradores. Legislação acústica mais
severa também obriga intervenções nos projetos. Apartamentos menores têm gerado
áreas comuns mais equipadas (academias de ginastica, salões de beleza,
brinquedotecas...). Mas, ainda não é esta a questão central...
Temos que voltar
nossos olhos para a diversidade das novas demandas dos moradores também dentro
de suas casas. Por exemplo: quem usa o ambiente domestico para sua jornada de
trabalho diariamente tem necessidades bem diversas do um casal de idosos que
mora ao seu lado. Jovens que residem momentaneamente num apartamento enquanto
fazem um intercambio ou um curso não criam raízes com a moradia. Mas, se
pensarmos bem, todos eles precisam de tecnologia enquanto estão dela se
utilizando.
O home office do
primeiro morador precisa conectividade, velocidade e praticidade. Os idosos
precisam ser monitorados em suas condições de saúde, tomar medicamentos nos
horários certos e contar com ajuda externa quando necessário. Os jovens têm que
se manter conectados com parentes distantes e querem a portabilidade de seus
gostos pessoais, como músicas, games ou vídeos. Mas, em geral, nenhum deles vai
dispensar ter tudo isto num ambiente também confortável, bem iluminado e
climatizado, seguro e fácil de ser utilizado.
Como então
proporcionar esta diversidade de benefícios para moradores tão distintos?
Aquilo que
tratamos acima envolve elementos básicos que deveriam estar presentes em todas
as moradias, em maior ou menor grau. Vejamos:
- internet
rápida e confiável, disponível para uso continuado através de diversos
equipamentos, móveis ou locais.
- energia de
qualidade, sem oscilações e de preferencia sem interrupções.
- iluminação
(artificial e natural) eficiente e simples de ser comandada; isto implica o
acionamento de luzes, mas inclui também a abertura e fechamento de cortinas e venezianas.
- lazer e
recreação no ambiente residencial, representado pelo acesso a conteúdos
diversos, como e-books, músicas, games e filmes em toda a moradia.
- controle de
acesso e vigilância bem resolvidos, eficiente e seguro tanto para moradores
como para visitantes e prestadores de serviços.
- alarmes
técnicos para evitar acidentes domésticos, envolvendo pessoas ou equipamentos
- conforto ambiental,
envolvendo tratamento acústico e climatização adequados e eficientes
Se atentarmos
para esta lista acima percebemos que para cada situação temos soluções de
automação residencial que podem atender plenamente o que foi requisitado, a
saber:
Redes
domésticas, com e sem fios, bem dimensionadas e instaladas são um requisito
básico e imprescindível para qualquer tipo de moradia atualmente.
Sistemas de
medição e de gestão de energia, além de sistemas de energia alternativa (no-breaks
ou geradores conforme o caso) passam a ser usuais.
Lâmpadas mais
eficientes como LEDs e cortinas motorizadas podem ser comandadas por controles
simples ou smartphones para facilitar tarefas diárias.
Sistemas de
sonorização ambiente e de distribuição de vídeo garantem o entretenimento a
qualquer hora e em qualquer ambiente da casa.
Fechaduras com
leitores biométricos, câmeras e sistemas de alarmes, de fácil instalação e
monitorados na nuvem garantem uma segurança avançada, estando o morador dentro
de casa ou a milhares de quilômetros de distancia.
Alarmes de
variados tipos, incluindo sensores de ocupação, de abertura de portas, de
vazamentos e similares podem detectar ocorrências fora da rotina do morador e
alertar colaboradores do condomínio ou serviços de atendimento externos.
Sistema de
aspiração de pó a vácuo facilita, agiliza e melhora a qualidade da limpeza
domestica. Aparelhos de ar condicionado e de aquecimento podem ser acionados e
controlados localmente ou á distancia, melhorando as condições de temperatura
ambiente e evitando serem esquecidos ligados.
Além destes
itens acima, todos já incorporados às modernas tendências da automação
residencial, estão surgindo outros “facilitadores” que estarão disponíveis
entre nós muito em breve: os assistentes virtuais, na sua maioria acionados por
comando de voz e contando com grande interatividade. Além de poder comandar
todos os equipamentos domésticos já citados, eles estarão sintonizados com
sistemas em nuvem eleitos pelo morador conforme suas preferencias: condições do
clima, situação do transito, notícias da economia, restaurantes ou farmácias da
região, eventos de seu interesse e assim por diante.
Então,
finalmente, perguntamos: os novos empreendimentos da construção civil que estão
sendo planejados neste momento estão incorporando estas tendências nos seus
projetos? Se esta questão ainda não se
espalhou como deveria, será que os investidores “antenados” não obterão um
considerável diferencial para os seus produtos imobiliários se apostarem nelas?
Na nossa visão,
a mudança de hábitos dos moradores é irreversível e acelerada. A reação dos
diversos fornecedores da cadeia produtiva é sempre irregular e pouco
previsível. Normalmente, a indústria da construção civil tem sido uma das mais
lentas em abraçar as novidades tecnológicas. Mas, o atual contexto econômico
aliado ás mudanças que nos referimos, não vai permitir erros de planejamento
que poderão causar a diferença entre sucesso e fracasso.
E, antecipar uma
necessidade latente, sempre representou um diferencial estratégico para
empreendimentos vencedores. Assim, fica a recomendação aos visionários...
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(*) José Roberto Muratori é engenheiro pela Escola Politecnica da USP com especialização em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas. Consultor e projetista de Automação Residencial e Predial e atual diretor executivo da AURESIDE
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(*) José Roberto Muratori é engenheiro pela Escola Politecnica da USP com especialização em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas. Consultor e projetista de Automação Residencial e Predial e atual diretor executivo da AURESIDE
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